O documentário Árvore Ser
Que eu me lembre, todas as casas em que morei tinham árvores na calçada. A moda do quintal em piso começou logo após o falso fim do mundo no ano 2000. Para a adesão: cimento e piso no lugar de grama e árvore. Piscina de tamanho médio para completar. Um item não obrigatório, porém, diferencial. Mais...
O resultado em escala? Dias mais quentes no bairro. As cidades são organismos vivos, agindo como um só, em modas. O orgulho que sentimos por sermos independentes, cada um em sua casa, é real, somos únicos. Mas ainda assim, temos ações em conjunto, em sociedade. Todo mundo comprou microondas na mesma época. Não foi?
Eu ainda prefiro caminhar na sombra das árvores da praça Barão de Araras. E em um minuto de pesquisa - sim, o documentário faz isso conosco, você se pega pesquisando sobre árvores - consegui entender algo interessante. Em seu sistema respiratório, uma árvore utiliza o calor do ambiente.
Dito isso, assistirei novamente ao documentário, dessa vez em casa, tem no youtube. E talvez. Talvez eu plante uma árvore.
Escrito em 2 de abril de 2025
Um Ponto MIS
A cidade de Araras acendeu um ponto de luz para o audiovisual, é um Ponto MIS. Uma integração com o Museu da Imagem e do Som, lá da capital. Incrível. Assisti aos documentários Árvore Ser e Bença, propositalmente em ordem alfabética. Mais...
Aliás, sobre Árvore Ser, alguém poderia expor naquele centro cultural os jornais da época. Fizeram ode ao evento. A festa das Árvores, cem anos atrás, foi aquele primeiro movimento no Brasil, um primeiro esforço em prol de ambiente habitável. Em proporção, é a mesma coisa que plantar uma muda, ali na praça de frente de casa.
Eu poderia fazer isso. Indicaria uma curadora. Faria os expositores em madeira e vidro. Mas a dúvida que me vem a mente é: a população de Araras está realmente merecendo?
Escrito em 30 de março de 2025
A inteligência artifical
Há muitas histórias sobre o fim do mundo. Há muitas histórias sobre tudo, na verdade. Algumas dessas histórias, por exemplo, são contadas na infância por nossos pais. Outras dessas histórias viajam pelas cidades, se tornam folclore. Mas eu não as colocaria na categoria de mentiras; são analogias que têm a intenção de ensinar. Mais...
A lenda folclorica sobre a qual escrevo hoje é a da Inteligência Artificial. Dizem por aí que ela vai destruir o mundo.
Geralmente uma boa história de destruição do mundo tem como protagonista algo desconhecido. Frequentemente as gerações elegem seu vilão. Historicamente, os agrupamentos humanos, sempre deram um jeitinho de inventar uma entidade maior que eles mesmos. A desculpa da salvação, juntamente com o perigo da destruição. O grande paralelo entre as maiores religiões é justamente esse dois lados da mesma moeda.
Que Deus proteja a inteligência artifical! A proteja da linguagem informal e gírias como "finde". O real perigo é o Chatgpt se tornar um adolescente, com um linguajar primitivo, que mais parece o dialeto de nossos antepassados, cavernosos, adoradores de árvores.
Escrito em 23 de março de 2025
O filme Flow
Flow é um gatinho sortudo que está sempre demandando ser salvo. As vezes pela personificação do acaso. Muitas outras por um último suspiro de decisão. Entre a eminente queda e o último agarrar - só agarra quem tem garras - escolhe o último agarrar no único instante restante. Mais...
Esse escapar é como quando uma arma esteve apontada para meu lado esquerdo, somente o vidro do carro a me separar, depois de um motorista me fechar no trânsito. Não o culpo. Estava com sua família e esse foi seu último recurso. Escapei com um apontar de direção com frieza e sem esboçar a raiva que me fez o seguir por quilômetros. Como se nada tivesse acontecido. Tudo era um engano. Irreal. Inclusive aquela reação.
Escrito em 16 de março de 2025
Um mais sobre Ainda Estou Aqui
A tática do desaparecimento é cruel. Essa é uma frase do filme. Como alguém entra na tua casa, te toma alguém, leva preso e depois diz: 'Sumiu'? Mais...
Se já não bastasse a dor da perda, ainda não há meios de subsistência. Como quando vemos notícias de catástrofes, destruindo cidades inteiras. Alguém que perdeu tudo e todos, desperta na manhã seguinte em um abrigo temporário. Ou será que nem mesmo consegueria dormir?
A vida muda de um dia para o outro e toda a segurança de mais ou menos saber como será o dia de amanhã desaparece.
Outra frase do filme que deixa expressa o sofrimento, é sobre um documento. Novamente, se não bastasse a dor, ainda há "a sensação esquisita de sentir alívio com um atestado de óbito.".
Escrito em 17 de fevereiro de 2025
Verbos abstratos
A melhor técnica para se lembrar algo esquecido, continua sendo esquecer do que se esqueceu, e de repente, lembrar. Até aqui todos os verbos foram abstratos. Isso, de acordo com a agência nacional de taxonomia do português, responsável pela identificação, nomeação e classificação das palavras. Mais...
Os grandes desafios da pasta: os verbos lembrar e querer. Esses, são ações tão orgânicas quanto tocar. Lembramos, pensamos e queremos o tempo todo. Diferentemente do verbo concreto comer, indicado à cada três horas.
Um carinho especial por lembrar. O critério de aceite para um verbo se tornar concreto é: estimular diretamente os sentidos do corpo. Então! Quando conto a história da melhor carolina do mundo - numa padaria do Bela Vista, na cidade de Rio Claro - eu consigo sentir o gosto. Lembrar de uma gafe na noite anterior, nos faz virar o rosto numa expressão de rejeição. O abraço da pessoa amada também é lembrado.
O verbo abstrato lembrar deve ser um daqueles abundantes. Tansborda essa caixa dos abstrato. Inunda os olhos.
Escrito em 14 de fevereiro de 2025
Política em Araras SP
Uma vereadora consegue retroescavadeira para a cidade. Mais...
Parece simples, não concorda? Essa foi uma notícia que disse muito sobre o papel dos orgãos municipais. Asfalto e mato são os pequenos prazeres de uma prefeitura. Zelar pelos espaços públicos. Iluminação pública também. Quem díria que luz iria diminuir os índices na cidade? Já a segurança pública é dever do estado, mas temos a guarda municipal. Se trata de um orgão cívil, com a folha de pagamento incluída no orçamento da prefeitura.
E justamente o orçamento é quem um prefeito e sua equipe enfrentam nos primeiros dias de mandato. Aquela cena do pai, conferindo notas fiscais, expressando o não fechar das contas, e vetando mais um cargo de assessor para vereadores. O novo assessor, lei aprovada nos últimos dias, não teria uma mesa no gabinete. Um irmão mais novo sem o enxoval.
A Rádio Tradição Ararense registrou em redes sociais uma entrevista pertinente no link.
Escrito em 9 de fevereiro de 2025
Ainda estou aqui
Afinal por que alguém assistiria? Uma história terrível. Quem iria gostar tanto desse filme? Nem mesmo parece real. Mais...
As cenas com a protagonista nadando no mar, quase que se atirando ao aberto, essas sim, são reais. É o que eu costumo fazer toda vez que fujo para o Rio de Janeiro. Uma das minhas paixões é nadar. Três horas seguidas, até me lembrar. Lembrar que do outro lado da cidade, da minha cidade, existe arte. Há mais uma outra luz, sabe?
O filme te prepara para o pior. Você sente, subitamente, o que está para acontecer. Outro efeito na experiência é que o método de interrogatório não é entregue, explicado, passo a passo. Você descobre, pensa sobre, por alguns minutos. E acredita que eles te dão esse tempo? A próxima cena é logo ali, depois da sua conclusão.
Escrito em 6 de fevereiro de 2025
Cultura
O secretário da cultura, conseguiu movimentar a cidade das Arvores com um mês de atraso. Ano que vem o chamarei para um café no dia 2 de Janeiro. A cultura é assim: rebelde. Odeia planilhas do excel e reuniões que poderiam ser um e-mail, especialmente reuniões no gabinete. Ama música pra gente. De gente como a gente. Mais...
Escrito em 2 de fevereiro de 2025
Estamos construindo essa cidade na areia da praia
Um lugar onde me senti completo por aqui e aqui dentro foi a Hípica. Às margens da represa Herminio Ometto. A mais bela paisagem para a prática do hipismo. A mais entre os clubes de cavaleiros do circuito interior de São Paulo. Mais...
O professor, você identifica pelo chapéu e camisa xadrez. No meio da pista, gritando jargões da cavalaria. E cá entre nós: ele deixa transbordar sua sabedoria, nas conversas em roda de cadeiras, que acontecem aṕós um dia de campeonato de Salto. Vale a pena saber ouvir. Eu devia ter pago áquela rodada. Volto logo, Mestre.
Escrito em 30 de janeiro de 2025
Fofoca
É difícil de acreditar que nossa espécie se auto entitulou Sapiens. Por muitas vezes não se faz jus ao nome. Em outras vezes, temos os grandes momentos da humanidade onde, por algum milagre, inventamos coisas incrivéis. E a fofoca é uma dessas criações humanas. Mais...
A fofoca tem função social, proteje o grupo dos perigos, isso, se houver credibilidade. Mas a cidade encantamento parece ter deturpado a fofoca. Sabe a Dona Renata que coloca sua cadeira de balanço, feita em vime, na frente de sua casa? É disso que estou falando. É uma arte perdida.
Escrito em 25 de janeiro de 2025
Todas as crônicas de Clarice Lispector
Aparentemente nós não gostamos de nossos clientes. Nem tudo precisa ser ferro e fogo. Como quando fui na lavanderia e consegui a data de retirada para, abre aspas, o decorrer do ano. Eu retiro meus lençois quando lembrar deles. Mais...
Mas é isso, as ocorrências de lençois sendo abandonados nas lavanderias só aumentam. Proporcionalmente aos divórcios. Muito acontece nessas transações comerciais, afinal, são duas pessoas, que saíram de suas casas, e se encontraram. E eu como cliente, estava entregando minha confiança. Somada a aflição de marcar um novo encontro. E por fim, o detalhe mais importante: "rol de sentimentos", foi a etiqueta.
Escrito em 18 de janeiro de 2025
Como vocês se conheceram?
Qual nome se dá praquele sentimento, quando se recebe um presente vindo de alguém que já não se gosta mais? Ou quando não se tem em currículo aulas de teatro suficientes? E quando se tem certeza, mas por apenas um minuto, quer mudar de ideia? Ou quando não parece certo mas se é convencido? Mais...
O mundo deixa de ser uma lista de sensações finitas, conhecidas por todos. Estou falando daquela sensação de assoprar as velas. Do presente esperado o ano inteiro, quase como ter jogado para o universo seu desejo, e recebê-lo. O perceber de quem se esperava muito não estar presente.
Nosso mundo se torna uma montanha russa de emoções, e ficamos tão ansiosos para o próximo pico de excitação que continuamos a cruzar os caminhos uns dos outros, se perdendo em sentimentos, e perdendo esses. Momentos memoráveis. E vou te contar, esses dariam uma boa história de amor. Daquelas que se conta em jantar com amigos, quando alguém do outro lado da mesa começa o assunto: "Como vocês se conheceram?".
Escrito em 12 de janeiro de 2025
Os senhores odeiam shopping center
É de conhecimento geral que o shopping center de Araras é a rua Tiradentes. Tempos atrás houveram boatos da inauguração de um shopping no subsolo de um supermercado. Algum tempo depois, os mesmos criadores desses boatos, alteraram a localização para onde hoje em dia se instalou o Burger King. Mas se eu estiver enganado, se não houveram esses boatos, boatos haverão agora. Mais...
A galeria, virou uma academia multidisciplinar. Encaixou-se bem no prédio. Toda a frente foi transformada dando espaço para um estacionamento com acesso à Av. Dona Renata. Mas convenhamos! Uma pizzaria do lado da academia? A cidade de Araras costuma quebrar alguns tabus na distribuição de comércios. Não que seja um problema. É mais um jogo de fachadas. E eu não estou aqui insurgindo contra o grupo de comerciantes organizados da cidade - mas fica entre nós que esse grupo insurge contra a construção de qualquer shopping center. Acontece que os restaurantes estão abrindo junto com as barbearias.
Talvez eu tenha acordado do lado errado da cama hoje. Mas e daí? É domingo e todos os habitantes dessa charmosa cidade estão na praia.
Escrito em 5 de janeiro de 2025
Mais um ano, os mesmos meses
Ler rapidamente as folhas de um jornal deixado por algum cliente no Nosso Ponto Café da nisso. Esperando as lojas abrirem, mergulhado nas notícias da cidade. Talvez não seja uma arte perdida, a do jornal. Mais...
Mais uma capela sofrendo vandalismo. Um time de judô da cidade ganhando medalhas. Reclamações sobre asfalto e limpeza da cidade - as oficiais responsabilidades da prefeitura, diga-se de passagem. Mais um ano, os mesmos meses.
Minha sugestão para acompanhar a leitura matinal: pingado e pão de queijo.
Escrito em 28 de dezembro de 2024
Belchior aos vinte e cinco anos
Belchior lançou um album em mil novessentos e bolinha, de nome Alucinação. A idade dele era vinte e cinco anos. Eu também tinha vinte e cinco anos quando descobri esse album. Conheci por amigos geralmente bem informados sobre o mundo da música. É como se eu entendesse cada estrofe e a beleza estética em destoar das conveções que regem a escrita de um poema padrão. Porque é isso que a música dele é. Não há nada igual, não segue moda, é como um gênero totalmente novo de algo que já conhecemos. Mais...
Mas isso não é sobre mim, é um diálogo da Jout Jout. Com essa coisinha louca chamada vida, eu aprendi algo crucial: que somos nossa própria família. Está tudo bem em não seguir indo à missa naquela terça-feira mesmo tendo crismado e sendo um destaque na primeira comunhão. Na real, eu consigo conversar sobre qualquer passagem da bíblia, incluindo os relatos do deus vingativo do velho testamento até a revolução contada nos evangelhos, justamente por causa da minha famíllia.
Nessa época Belchior estava em São Paulo, rodeado por fãs e pessoas que fazem a estrutura de um artista. Você não contrata o artista. Você contrata uma grande engrenagem de pessoas, famílias que tem por um objetivo entregar emoção. Agora, quais emoções escreveram cada uma das músicas? Por mais que estivesse com pessoas que confiava, São Paulo ainda era uma cidade desconhecida.
Eles dizem que somos os livros e pessoas que conhecemos. Um album deve ser essa máxima descrita.
Escrito em 21 de dezembro de 2024