<

Belchior aos vinte e cinco anos

Belchior lançou um album em mil novessentos e bolinha, de nome Alucinação. A idade dele era vinte e cinco anos. Eu também tinha vinte e cinco anos quando descobri esse album. Conheci por amigos geralmente bem informados sobre o mundo da música. É como se eu entendesse cada estrofe e a beleza estética em destoar das conveções que regem a escrita de um poema padrão. Porque é isso que a música dele é. Não há nada igual, não segue moda, é como um gênero totalmente novo de algo que já conhecemos. Mais...

Mas isso não é sobre mim, é um diálogo da Jout Jout. Com essa coisinha louca chamada vida, eu aprendi algo crucial: que somos nossa própria família. Está tudo bem em não seguir indo à missa naquela terça-feira mesmo tendo crismado e sendo um destaque na primeira comunhão. Na real, eu consigo conversar sobre qualquer passagem da bíblia, incluindo os relatos do deus vingativo do velho testamento até a revolução contada nos evangelhos, justamente por causa da minha famíllia.

Nessa época Belchior estava em São Paulo, rodeado por fãs e pessoas que fazem a estrutura de um artista. Você não contrata o artista. Você contrata uma grande engrenagem de pessoas, famílias que tem por um objetivo entregar emoção. Agora, quais emoções escreveram cada uma das músicas? Por mais que estivesse com pessoas que confiava, São Paulo ainda era uma cidade desconhecida.

Eles dizem que somos os livros e pessoas que conhecemos. Um album deve ser essa máxima descrita.

Escrito em 21 de dezembro de 2024